quinta-feira, novembro 29, 2007

Meus cárceres: os carcinomídeos, o futebol e a redenção

29 03 12. “Camelo, avestruz e burro na cabeça”, meu pai diria. Pra mim, deu zebra coluna do meio. Ótima senha pra cartão de banco que certamente será roubado. A neologista não menos fanática pelo paulistano três cores F. C. do que o fanático torcedor do Bayern München, foram os últimos. Não que eu vá rejeitar os próximos, mas esses foram os últimos que apareceram, andando de lado na areia fofa ao redor dos meus pés. Depois de dois amarelos pra cada, cartão vermelho.

Jogaram com o corpo na conquista do título, mas na hora da decisão a cabeceada foi na trave. “Sabe qual a diferença entre os jogadores alemães e os brasileiros? Os alemães jogam com a cabeça, os brasileiros com o corpo”. Verdade. Para uma ariana, me obriguei a concordar com tal estilo de jogo e a achar que entendia de astros e estrelas.

Via um bailar dentro daquelas bombachas. Era bonita de se ver. Com o tempo, gastou a espora. E confesso que a beleza de sua forma e o sabor delicioso de suas carnes me venceram por longa temporada.

Não sabia que adoraria tanto comer caranguejo. Além do sabor, é divertido porque você tem que quebrar a casca com um martelo e chupar o que tem dentro das patas e das outras partes. Divertido e cansativo.

Depois eles trocam a carapaça. Tornou-se extinta, pelo menos no meu prato. Carnes caras gaúchas. Carnes importadas alemãs.

Adoravam me ver com a bola nos pés, dançarolava, encantava. Era gostoso excitar os olhos alheios.

Joguei com o corpo, me joguei de cabeça. Cheguei até as fronteiras gaúchas onde tive mais tempo de tocar a boiada. O muro de Berlim não cheguei a conhecer. Provavelmente, minhas guampas de carneiro teimoso tivessem ajudado a derrubar uma argamassa, uns tijolos dessa barreira. Mas não chegamos a tempo um do outro.

Na época mais que polêmica da vida, fui acometida de um cancerígeno amor. Disputava comigo o posto de mais briguento do ginásio. Éramos justos, apesar do pavio. Adorava minha avó, que tinha paixão por ele, me dizendo “esse aí é bom rapaz, gosto muito dele, mas tu com essas maluquices... és muito ciumenta!”. Era verdade. Nada que me fizesse cortar os pulsos (pelo menos não na vertical do braço como é mais eficiente), mas umas cabeçadas sempre me acompanharam. A veia era brava também.

No fundo, nem corpo nem cabeça. Sempre joguei com o coração. Um coração feroz e voraz, honesto e doce, mas - ou por isso - tomado de um câncer confuso. Nem benigno, nem maligno.


Um novembro de 2007, soando como 2025.