quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Carta ao Sr. Prefeito de São Paulo, "El Justiciero", 13 de fevereiro de 2008.

Tenho uma intenção. Não importa. Importa a tentativa de me esconder. Me esconder atrás de um poste. Como sou gordo, não consigo. Mas penso que já que o prefeito decidiu contemplar os skatistas com a reforma na calçada da Paulista, poderia agraciar os gordinhos alargando os postes.
Ilustríssimo Senhor Prefeito. Ou seria Excelentíssimo? Ou como é mesmo que se abrevia esses pronomes de tratamento que aprendemos no que fora a quarta série, do extinto ginásio? Mas isso também não vem ao caso, porque não me ajuda a me esconder.
Quero me esconder atrás daquele poste da esquina da Haddok Lobo com a Paulista, pra quando aquele meu vizinho passear com o Vincent e ele resolver fazer xixi, eu vou poder dar aquele escândalo, afinal o cachorro terá mijado na minha perna, e então trocaremos telefones. Trocaremos tanbém algumas ofensas, mas isso é pro relacionamento já começar picante e um pouco agressivo. Mas sou gordo.
Na verdade eu sou ator e estou procurando um jeito de me esconder atrás do palco. Não do palco, mas da cena. Só que eu tenho que estar em cena. Então resolvi escrever. Sendo um escritor, posso tentar me esconder atrás das palavras. Pareceu, primeiramente, mais fácil do que me esconder atrás de uma cena. Mas cheguei até esta linha e tudo o que consegui foi uma frustrada imaginação de me esconder atrás de um poste na Paulista.
É claro que se eu disser que tenho no palco apenas a mim mesmo, o palco em si, e um objeto qualquer - claro que mais estreito do que eu porque assim conseguiria melhor o efeito de esconderijo em cena, mostrando a todos que, ora vejam só, estou escondido e pretendo flertar com o meu vizinho - eu conseguiria me esconder. Mas eis que me ocorre a idéia de me esconder usando a iluminação da cena. Deixo tudo escuro e estarei escondido. Não, mas isso não terá o efeito de esconderijo pois o público mal saberá que tem alguém ali. No máximo vão achar que a peça terminou e vão bater palmas. Poderia deixar as luzes coloridas preencherem o palco e projetar em mim uma sombra, mas vão achar que é uma porta, um corredor ou algo parecido.
Uma palavra para eu me esconder. É tudo que peço para acompanhar este vinho vagabundo. E se eu fosse um pintor? Abro a janela do meu quarto onde estou no momento escrevendo esta carta, esta última carta: "Prefeito, ajuda-me por favor, yo tengo 30 hijos!"

Um comentário:

Flávia Santos disse...

ótemo. essa coisa de se perder no que escreve, no intuito primeiro, mas continuar a ser a carta, mesmo o assunto descambando entre as vozes.